Emoção: Fome de afeto

Enviado em 08 d setembro d 2009, sob Emagrecimento

Carência, estresse e os mais variados tipos de frustração são os principais responsáveis pela compulsão alimentar, uma doença que contribui para a subida dos ponteiros da balança.

Por Janete Tir, Revista UMA

Atire a primeira pedra quem nunca devorou uma caixa de bombons em cinco minutos ou atacou a geladeira no meio da noite para se sentir um pouco melhor, seja pela falta de um grande amor, pelas frustrações do dia-a-dia, pela situação financeira e até pela bronca recebida no trabalho. Se você já passou por uma situação dessas, saiba que não é a única que tenta encontrar conforto comendo. “A maioria das pessoas, quando passa por momentos estressantes, aumenta o consumo de alimentos, sobretudo de doces, pois eles levam o cérebro a produzir substâncias que causam bem-estar, explica o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento, de São Paulo.

E de onde vem essa idéia de compensar o sofrimento com comida? A resposta pode estar na infância. “Muitas mães oferecem doces sempre que seus filhos choram ou fazem manha, sem procurar saber o real motivo de sua frustração. Esse tipo de atitude vai repercutir na idade adulta como um padrão, fazendo com que a pessoa necessite do alimento para se sentir bem”, esclarece a psicóloga clínica Patrícia Vieira Spada, autora do livro Obesidade infantil: aspectos emocionais e vínculo mãe/ filho (Ed. Revinter). Segundo a terapeuta, é preciso que os pais observem a criança nos momentos de ansiedade, busquem conversar com ela e nunca tentem compensar sua ausência com guloseimas.

Mas e quando o padrão já se instalou na fase adulta? Bem, para os especialistas, se essa compensação for racional, a pessoa saberá que passou dos limites e logo voltará a ter uma alimentação equilibrada. Já se a comida for usada como válvula de escape o tempo todo, cuidado: esse tipo de comportamento é comum em casos de compulsão alimentar, uma doença grave e que pode levar à obesidade. O compulsivo passa a viver uma situação que, com o tempo, só piora. É como uma bola de neve: a carência ou a frustração desperta a necessidade de comer mais, o excesso de calorias leva ao aumento de peso, que gera mais frustração, criando um círculo vicioso. Leia mais sobre o assunto e descubra como tratar o problema de forma segura e eficaz.

Consciência: caminho para a cura
Na opinião de Zuleika Fuentes, psicóloga do Peso Ideal – um curso de instrução alimentar que oferece apoio psicológico para perder peso com saúde – quando o paciente se torna consciente de que é compulsivo, tem a chance não só de resolver o problema, mas também de se conhecer melhor: “É preciso prestar atenção em si mesmo, pois muitas vezes a compulsão muda de forma. Por exemplo, tem gente que pára de comer em excesso, mas começa a fumar ou a comprar coisas que nem precisa. Nesses casos a terapia é fundamental para que o paciente possa administrar a ansiedade sem limitar sua vida”, explica.

Mas fique atento: fugir do problema não resolve! Mais cedo ou mais tarde a compulsão vai aparecer novamente, ainda que disfarçada de “loucuras”, como comer escondido. “Muitas pessoas mentem dizendo que não comeram, completam o litro de refrigerante com água para ninguém perceber que tomaram, desenvolvem técnicas de desembrulhar bombons sem fazer barulho… E o pior, pensam que ninguém está vendo e têm dificuldade de se abrir e procurar ajuda”, completa Zuleika.

Isso sem contar aqueles que nem sabem que sofrem de um transtorno alimentar que pode ser tratado. Esses, em geral, acabam dando ouvidos a comentários pejorativos e se vendo como fracos, sem força de vontade e até sem-vergonhas. “Se o assunto do dia em família forem as suas infindáveis tentativas de emagrecer, você tem o direito de dizer que não quer falar sobre isso, que é algo pessoal”, diz a psicóloga.

Emoções em dia
Procurar ajuda especializada é o melhor caminho para investigar um comportamento compulsivo e só assim saber lidar com o problema. “As pessoas ansiosas costumam reagir de um jeito diferente quando passam por situações difíceis. Elas são inseguras e não aceitam as mudanças com facilidade. Por isso é necessário fazer um trabalho voltado à reflexão, para que haja uma aproximação do paciente com seus medos”, esclarece a especialista do Peso Ideal. Apesar da resistência inicial, o tratamento psicológico costuma dar bons resultados em casos assim. “Parece bobagem, mas as pessoas têm muita dificuldade para cuidar das emoções, têm um certo preconceito. Precisam perceber que se existe um ortopedista para tratar de uma perna quebrada, há também um profissional específico para cuidar do lado emocional”, afirma.

A luta contra a compulsão pode ser longa e é preciso ter persistência, além das ferramentas certas para vencê-la. Os medicamentos normalmente receitados por psiquiatras para tratar quadros como esse são os ansiolíticos e antidepressivos. Mas nem todo mundo se adapta a seus efeitos colaterais. A medicina complementar oferece uma série de alternativas eficientes e menos invasivas para tratar o mal, suas causas e conseqüências, confira!

Movimentos vitais da ioga
Quando chegar em casa, cansada depois de um dia exaustivo, pare e pense: nada de fazer as coisas automaticamente. Primeiro relaxe, porque com calma é mais fácil se controlar. “Aquietar a mente ajuda a combater a compulsão, já que o problema começou num nível mais sutil”, diz Renata Quirino, professora da escola Satya Mandir Yoga, de São Paulo. O exercício para reduzir os níveis de ansiedade é o seguinte:
Escolha um cantinho sossegado da casa, perto de uma parede. Deite de costas no chão, com o bumbum encostado na parede e as pernas retas, levantadas e apoiadas nela. Fique assim por cerca de dez minutos. Respire profundamente e deixe os pensamentos virem, mas não se apegue a nada. A sensação é de tranqüilidade total, aquela urgência toda acaba e você tem a chance de fazer tudo com mais calma.

“Aquietar a mente ajuda a combater a compulsão, já que o problema começou num nível mais sutil”
Renata Quirino

Alimente sua criatividade com a arteterapia
Para suprir a necessidade de carinho sem passar pela geladeira, uma boa opção é se dedicar à arte. Pintura, escultura, dança, música e várias outras formas de expressão são meios prazerosos e terapêuticos de resolver o problema. Segundo a psicóloga clínica e presidente da Associação Brasileira de Arteterapia, Joya Eliezer, que há 30 anos trabalha com a técnica, “a arte causa prazer por propiciar a oportunidade da criação, o que é muito benéfico”. Para ela, a satisfação social gerada com o método substitui a canalização oral realizada com a comida. “Quando a pessoa se integra esteticamente, tem condição de se reeducar do ponto de vista nutricional. Assim, passará a comer quando tiver fome apenas, afastando a fome emocional.” Os primeiros exercícios são apreciar e tentar desenhar a natureza. E nem precisa se preocupar em não ter dom artístico, porque toda técnica pode ser aprendida. Os resultados aparecem depois de dois meses, tempo muito menor do que na terapia convencional.

A mente é tudo no self-healing
O self-healing (autocura) é um tratamento holístico que ajuda o paciente a reconhecer suas posturas e a conectá-las com suas tensões e processos patológicos. Também atua nos padrões da mente já fixados. Wilson Cezar Garves, terapeuta ocupacional e diretor da Associação Brasileira de Self-Healing (ABSH), diz que quando se trata de compulsão alimentar o mais importante é descobrir a causa do problema e, a partir daí, buscar exercícios de autoconhecimento e controle físico.

Exercícios de conscientização:
–  Deite de lado numa cama ou no chão e role o corpo, deslocando-se bem lentamente, uma parte de cada vez. Primeiro deixe cair um ombro para trás, depois um braço. A seguir, um joelho e depois o outro. Assim, vá rolando de um lado para o outro, prestando atenção em cada membro e respirando profundamente.

– Deite de barriga para cima e comece a mexer as articulações do punho, ombro, joelho e tornozelo. Faça um movimento, pare e visualize-o. Continue com outra articulação. Esse exercício combina atenção e ação e ajuda a ampliar a consciência corporal.

Toques mágicos de do-in
A milenar medicina chinesa ensina que estímulos em pontos específicos podem aliviar tensões. Uma das melhores maneiras de fazer isso é lançando mão do do-in, massagem que podemos fazer em nós mesmos. O fisioterapeuta João Júlio de Almeida ensina os seguintes exercícios:

– Três vezes por dia, belisque os dois primeiros dedos dos pés ao mesmo tempo, nos cantinhos da unha, mantendo pressão contínua por cerca de um minuto, para sedar os meridianos envolvidos com a captação de energia alimentar e a ansiedade.

– Outra dica é o ponto que fica bem no topo da cabeça, linha média entre as pontas das orelhas, e que corresponde ao chakra da coroa. Ele é indicado nos comportamentos maníacos. Deve ser massageado em fricção lenta, que se aprofunda sem causar muita dor.

TESTE: VOCÊ É COMPULSIVA ALIMENTAR?
Nem sempre é fácil distinguir uma escorregada alimentar de uma compulsão. Para detectar o problema, a psicóloga Zuleika Fuentes, do Peso Ideal, elaborou um teste bem simples. Veja se você se enquadra no perfil e, se necessário, procure ajuda.

Você…
– É tomada por um impulso muito forte para comer…
– Tem dificuldade para parar quando começa a se alimentar desenfreadamente…
– Tem tendência a esconder, mentir, omitir o consumo de guloseimas…
– É muito ansiosa…
– Está impotente diante desse comportamento…

Se você assinalou pelo menos três dos cinco itens acima, provavelmente apresenta comportamentos compulsivos.

Dicas importantes:
1. Encare o problema, por pior que possa parecer.
2. Procure ajuda profissional.
3. Aprenda a questionar sua atitude compulsiva em vez de aceitá-la: “O que será que realmente está acontecendo comigo?”
4. Valorize cada pequena atitude, pois cada uma estará mudando o rumo de sua vida.
5. Tenha calma. Vá adiante, devagar e sempre. Tentar diminuir a ansiedade é fundamental neste processo. A melhora se dá de forma contínua e nunca avança mais do que um dia de cada vez.
6. Um sinal de progresso é quando aquilo que sempre lhe pareceu normal e familiar começa a ser visto como incômodo e doentio.

Fonte: Revista UMA / Por Janete Tir

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