Angústia é doença e tem cura

Enviado em 02 d agosto d 2010, sob Sentido de vida

Foto de Anaiá Paixão Tema: Lírios Ela gera um desconforto físico, psíquico e requer tratamento diferenciado. Saiba mais!

Texto extraído da Revisa Saúde Vital – Por Adriana Toledo

Chego pela manhã ao complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e me dirijo ao primeiro andar do prédio do Instituto de Psiquiatria, onde sou recebida pelo chefe do departamento, o psiquiatra Valentim Gentil.

Nosso objetivo é definido: caracterizar, com elementos concretos, o conceito de angústia. A missão é árdua. “Diferentemente do medo ou da ansiedade, que são experimentados pela maioria das pessoas, a angústia acomete menos de 50% da população. E nunca tive essa experiência, o que dificulta a tarefa de descrevê-la com precisão”, confessa. “Em geral, meus pacientes relatam uma agonia mental sem gatilho aparente, atrelada a um sufoco semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito”, descreve. Incentivar o diagnóstico e um tratamento personalizado é a proposta de Gentil, que assina o artigo intitulado Why Anguish? — em português, Por que angústia? —, que acaba de ser divulgado na publicação científica inglesa Journal of Psychopharmacology.

Isso porque, nas discussões entre especialistas do mundo todo, o sentido dessa emoção se esvaziou ao longo do tempo. E frequentemente ela é confundida com o distúrbio de ansiedade ou de pânico (veja os complementos desta matéria). “Mas são comportamentos mentais diferentes, com padrões de ativação cerebral distintos”, defende Gentil. “A ansiedade é uma apreensão exagerada em relação ao futuro, enquanto a angústia é um sofrimento relacionado ao presente.” Munida dos esclarecimentos sobre as manifestações físicas do sintoma, sigo ao consultório da psicanalista paulistana Maria de Lourdes Félix, que auxilia Gentil nas pesquisas sobre a face psicológica da angústia. “Meus pacientes costumam levar as mãos ao peito e reportar um sentimento de vazio. Sentem conflitos diante das inúmeras possibilidades de escolhas no dia a dia e questionam o sentido de sua existência”, conta. “Em casos extremos, essas pessoas são dominadas pela introversão. Elas perdem a capacidade de análise, de lidar com o cotidiano, de interagir socialmente. Ficam paralisadas.” À luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), a psicóloga Marília Dantas, da Universidade Estácio de Sá, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, traduz o mal-estar: “O ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”.

Reconhecer um quadro de angústia é uma função que cabe a especialistas. Mas os angustiados de plantão podem contribuir, fornecendo detalhes de como se sentem. É o que constatei nas conversas durante os trajetos de consultório em consultório. A pergunta que fiz a motoristas, recepcionistas, colegas e pedestres com quem cruzei no caminho era sempre a mesma: o que é angústia para você? As respostas variaram. “É pensar como seria minha vida se eu tivesse estudado psicologia.” Ou “É um beco sem saída dentro do peito”. Ou ainda “É uma incerteza sobre as consequências das decisões que tomei”.

Infelizmente, a maioria dos angustiados só procura ajuda especializada quando a sensação ruim beira o insuportável. “Eles chegam ao pronto-socorro com dor e opressão no tórax, peso e desconforto no peito”, confirma o cardiologista César Jardim, supervisor do pronto-socorro do Hospital do Coração, em São Paulo.

Os sintomas se assemelham aos de problemas cardiológicos, como infarto. “Mas os problemas cardiovasculares só se confirmam em 30% dos casos”, estima. Ele conta que, depois de realizar exames e apontar que o sujeito está em condições perfeitas de saúde, os pacientes confessam que vêm se sentindo nervosos e… angustiados. Quando é assim, excluída a presença de doenças físicas, o passo seguinte deveria ser a visita a um psiquiatra. “Há hipóteses de que a angústia seja desencadeada por uma maior ativação de uma região chamada ínsula, no córtex cerebral, relacionada à percepção de funções viscerais, como as do coração, do diafragma e dos pulmões”, explica Valentim Gentil. “Por isso, acreditamos que suas vítimas possam responder bem a calmantes chamados benzodiazepínicos, a alguns antipsicóticos e a uma classe de antidepressivos conhecida como tricíclicos”, continua. “A imipramina é um dos principais medicamentos desse grupo e se mostra eficaz, apesar de promover eventuais efeitos colaterais, como tonturas e alterações cardíacas”, completa seu colega Jair Mari, da Universidade Federal de São Paulo.

Essa droga modula neurotransmissores como a noradrenalina, substâncias que agem no cérebro e controlam as emoções. O ideal é complementar esse tratamento com o de um psicólogo ou psicanalista. “Trabalhamos o desenvolvimento emocional, fazendo com que o paciente reflita e traduza seus pensamentos, criando condições para contornar sentimentos que julga insuportáveis”, explica Maria de Lourdes.

A angústia é, portanto, um problema de saúde e necessita de acompanhamento. Se ela anda sufocando-o, chega de sofrer em silêncio: busque auxílio e afrouxe, de vez, esse nó dentro do peito. Não confunda com angústia: Os transtornos a seguir se caracterizam por sintomas que algumas vezes podem ser acompanhados do aperto no peito:

Depressão – Ela é fruto de um desajuste em substâncias químicas que conduzem informações entre os neurônios — chamadas de neurotransmissores — e desencadeia alterações emocionais e físicas. Tristeza, baixa autoestima, pensamentos de morte, distúrbios do sono, fadiga, dificuldade de concentração e falta de apetite são alguns dos sinais mais frequentes.

Transtorno de ansiedade – Também ligado à disfunção de neurotransmissores, gera uma preocupação excessiva diante de situações do cotidiano, como uma entrevista de emprego ou um evento social. Quem sofre do problema costuma ter pensamentos inquietantes e exagerados, temendo um desfecho ruim para o futuro. Palpitações, falta de ar e alterações de sono podem completar esse quadro.

Transtorno de pânico – Em geral, eclode em ataques súbitos, decorrentes de uma ansiedade exacerbada, não necessariamente com um gatilho pontual. Falta de ar, tremores, taquicardia, sudorese aumentada e vertigem levam o paciente a ter uma sensação de medo e de morte iminente.

Foto: Anaiá Paixão

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2 comentários:

  1. Edilson Pedro Trento

    Caros colegas, procurei este site na tentativa de entender o que é agustia verdadeiramente, pois tenho essa doença a muitos anos, sinto uma pressão enorme na gargantea e no peito, perda de controle dos meus pensamentos e fico paralisado. A dor é imensurável e não verbalizável, sinto vontade de chorar e não consigo, já procurei muita ajuda especializada mas não obtive exito com ninguém, não entendo o que acontece, fico desesperado e acho que não vou suportar mais, que cada dia é o último, mas venho lutando e acreditando que um dia tudo passará, li a matéria e vi que quantos sofrem com esse mal;

  2. Marcia Beirada

    Ha alguns meses venho sentindo muita angústia, acompanhada de uma sensação de “bolo na garganta”, parece que os músculos da garganta estão fortemente contraídos a ponto de eu não conseguir deglutir direito, sensação essa que melhora com benzodiazepínicos(pq são relaxantes musculares). Para não viciar, tomo sempre um comprimido(quando tomo) acompanhado de outro comprimido de dorflex ou dorilax.Mas ja estou procurando terapia e tambem consultar um médico para me orientar sobre um antidepressivo, que eu possa tomar todos os dias.